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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Deus no Cérebro – BBC – resumo do programa

Este aqui é mais um texto do qual gostei muito que li no blog Humor Ateu. Mantive as fontes que o autor de lá citou. É incrível que quanto mais avançamos nas pesquisas, cada vez mais o "Deus das Lacunas" perde sua majestade sobre nós. Não vou entrar aqui no mérito se existe Deus ou não, pois nem sequer é esse o objetivo do texto. Mas é interessante como podemos descobrir a origem da religiosidade em nossos cérebros.

Vou ver se consigo o vídeo desse documentário e caso o encontre, vou disponibilizar aqui. Por enquanto, vamos ficar com o texto, que por sinal é muito bom. E em breve, vou disponibilizar o segundo episódio da série Cosmos. Aguardem.



Deus no Cérebro – BBC – resumo do programa

Rudi Affolter e Gwen Tighe experimentaram ponderosas visões religiosas. Ele é ateu. Ela é cristã. Ele pensou que tivesse morrido; ela pensou que tivesse dado à luz Jesus Cristo. Ambos têm epilepsia do lobo temporal.

Como outras formas de epilepsia, essa condição causa convulsão, mas também está associada com alucinações religiosas. Pesquisas sobre por que pessoas como Rudi e Gwen viram o que viram têm aberto todo um campo de neurociência: a neuroteologia.

A conexão entre os lobos temporais do cérebro e o sentimento religioso levou um cientista canadense a tentar estimulá-los (eles estão próximos aos seus ouvidos). 80% das pessoas sujeitas ao experimento do Dr. Michael Persinger relatam que um campo magnético artificial focado sobre aquelas áreas do cérebro dá-lhes um sentimento de ‘não estar sozinho’. Alguns deles descrevem isso como uma sensação religiosa.

O trabalho levanta a perspectiva de que somos programados para acreditar em deus, de que a fé é uma habilidade que os humanos desenvolveram ou receberam. E a epilepsia do lobo temporal (ELT) poderia ajudar a desvelar o mistério.

Líderes religiosos

A História está cheia de figuras carismáticas. Poderiam algumas delas ter sido epiléticas? As visões que tiveram personagens bíblicos como Moisés ou São Paulo são consistentes com as de Rudi e Gwen, mas não há como diagnosticar ELT em pessoas que viveram tanto tempo atrás.

Existem, porém, exemplos mais recentes, como um dos fundadores do Movimento Adventista do Sétimo Dia, Ellen White, nascida em 1827. Ela sofreu um ferimento cerebral com a idade de nove que mudou totalmente sua personalidade. Ela também começou a ter poderosas visões religiosas.

Representantes do Movimento duvidam que Ellen White tenha sofrido de ELT, dizendo que o ferimento dela e suas visões são inconsistentes com a condição, mas o neurologista Gregory Holmes acredita que isso explique a condição dela.

Melhor que sexo

A primeira evidência clínica a ligar os lobos temporais com as sensações religiosas surgiu através do monitoramento de como os pacientes de ELT respondiam a grupos de palavras. Num experimento onde as pessoas foram expostas a palavras neutras (mesa), palavras eróticas (sexo) ou palavras religiosas (deus), o grupo de controle ficou mais excitado pelas palavras sexualmente carregadas. Isso foi tomado como uma resposta à flor da pele. As pessoas com epilepsia do lobo temporal não compartilharam esse aparente senso de prioridades. Para elas, as palavras religiosas geravam a maior reação. Palavras sexuais eram menos excitantes do que as neutras.

Faz de conta

Se a atividade anormal de pacientes com ELT altera sua resposta a conceitos religiosos, poderiam padrões cerebrais artificialmente produzidos fazer o mesmo por pessoas sem tal condição médica? Essa é a questão que Michael Persinger se pôs a explorar, usando um capacete desenhado para concentrar os campos magnéticos nos lobos temporais do usuário.

Seus voluntários para a experiência não foram avisados a respeito do propósito específico do teste; somente que o experimento pretendia observar o relaxamento. 80% dos participantes relataram sentir alguma coisa quando os campos magnéticos eram aplicados. Persinger chama uma das sensações mais comuns de ‘sensação de presença’, como se alguém mais estivesse com eles na sala, quando não há ninguém de fato.

Horizon apresentou o Dr. Persinger a um dos mais renomados ateus britânicos, Professor Richard Dawkins. Ele concordou em tentar essa técnica em Dawkins para ver se conseguiria proporcionar-lhe um momento de sentimento religioso. Durante a sessão que durou 40 minutos, Dawkins achou que os campos magnéticos ao redor do seu lobo temporal afetavam sua respiração e membros. Ele não encontrou deus.

Persinger não se sentiu desencorajado pela imunidade de Dawkins aos poderes do capacete magnético. Ele acredita que a sensibilidade dos nossos lobos temporais ao magnetismo varia de pessoa a pessoa. Pessoas com ELT podem ser especialmente sensíveis aos campos magnéticos; o Professor Dawkins está bem abaixo da média, aparentemente. Esse é um conceito ao qual, clérigos como o bispo Stephen Sykes, dão algum crédito também: poderia haver uma coisa tal como um talento para a religião?

Imagem Cerebral

Sykes, porém, vê uma grande diferença entre uma ‘presença sentida’ e uma genuína experiência religiosa. Cientistas como Andrew Newberg querem apenas observar o que acontece durante momentos de fé. Ele trabalhou com o budista, Michael Baime, para estudar o cérebro durante a meditação. Injetando indicadores radioativos na corrente sanguínea de Michael à medida que ele chegava ao nível de um transe meditativo, Newberg conseguiu usar um scanner cerebral para formar uma imagem do cérebro durante o clímax religioso.

Os padrões do fluxo sanguíneo mostraram que os lobos temporais estavam certamente envolvidos, mas também que os lobos parietais pareciam completamente desligados. Os lobos parietais nos dão a sensação de tempo e lugar. Sem eles, podemos perder nosso senso de self (eu, ego, mim mesmo). Seguidores de muitas das fés mundiais consideram um senso de insignificância pessoal e união com uma deidade como algo a ser perseguido, buscado. O trabalho de Newberg sugere uma base neurológica para o que a religião tenta gerar.

Evolução religiosa

Se a função cerebral oferece uma compreensão de como experimentamos a religião, será que ela diz algo sobre por que o fazemos? Há evidência de que as pessoas com fé religiosa não têm mais vida saudável. Isso parece indicar um benefício para a sobrevivência das pessoas religiosas. Poderia a crença religiosa ter evoluído devido a isso?

O Professor Dawkins (que reconhece a evolução como explicação do desenvolvimento humano) pensa que poderia haver uma vantagem evolucionária, não por se acreditar em deus, mas por se possuir um cérebro com a ‘capacidade’ de acreditar em deus. Que tal fé exista é um produto do esforço da inteligência. O Professor Ramachandran nega que a descoberta sobre como o cérebro reage à religião renegue o valor da fé. Ele sente que os circuitos cerebrais como os que Persinger e Newberg identificaram, poderiam constituir uma antena para nos tornar receptivos a deus. O Bispo Sykes, por sua vez, pensa que a religião não tem nada a temer a respeito dessa neurociência. A ciência existe para buscar explicar o mundo ao nosso redor. Para ele, pelo menos, ela pode coexistir com a fé.


Tradução para o português: Sergio Viula (para o blog Fora do Armário: http://www.glsgls.blogspot.com/)

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