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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Escritor e psicólogo americano diz que religiosidade diminuirá no Brasil


Não reparem eu ter mudado o título, mas estou desenvolvendo um ódio mortal desses títulos que são modinha agora que terminam sempre com uma vírgula seguida de "diz estudo", "diz ..." Por que não usar um título como esse que fiz aí em cima? Tudo bem, deixemos a questão dos títulos para os profissionais de jornalismo.Ainda que nada que eles digam me convencerá de que essa nova forma é melhor. Eu acho desagradável e não vou colocar isso aqui.

Hoje, encontrei no site do Terra uma notícia meio antiga e isso me animou bastante. Como ex-religioso e hoje ateísta convicto, a coisa que mais impacientemente espero é que as religiões sejam abolidas do planeta. Mas não por imposição, mas que isso venha a ocorrer naturalmente, com o avanço do conhecimento científico. E sinceramente, se eu puder presenciar isso aqui no Brasil pelo menos, já será uma grande alegria.

Vamos então à notícia. 




Diretor da Sociedade Cética, criador da revista Skeptic e articulista semanal da Scientific American, o psicólogo e escritor americano Michael Shermer vem ao Brasil para disseminar a dúvida e o questionamento na 6ª edição do Fronteiras do Pensamento. Na mala, o cientista traz a certeza de que o ceticismo pode melhorar o planeta. De fato, ele prevê o arrefecimento da religiosidade da população brasileira com o aumento da prosperidade: "As pessoas se voltam para a religião quando seus governos não fornecem uma estrutura social sólida".

Isso me faz lembrar de um livro que li muito tempo atrás, no qual o autor afirmava que o mito é uma forma de o homem conviver melhor com um mundo assustador. Há ainda aqueles que afirmam que ser religioso, acreditar em um deus ou em vários fazem com que o indivíduo consiga morrer melhor, ou seja, sem sentir tanto medo. O fato de nos dar alguns benefícios, não muda o fato de ainda não termos certeza da existência de um deus sequer.

Shermer nem sempre foi tão cético quanto mostra uma das frases de sua entrevista ao Terra: "Eu duvido até que provem o contrário". Durante o ensino médio, ele batia de porta em porta para propagar a palavra do Evangelho. No curso de psicologia, porém, as certezas cristãs começaram a ruir. Por fim, em 1983, competindo como ciclista em um desafio chamado Race Across America, ele percorreu mais de 2 mil km em 83 horas sem dormir e, absolutamente exausto, passou a delirar. Quando seu time de apoio finalmente pediu que ele parasse para descansar, o ciclista pensou que eram alienígenas conduzindo-o para a nave-mãe. Algumas horas de sono o curaram - a nave, afinal, não passava de um motor home bem americano. Essa confusão o levou a estudar com afinco as razões pelas quais os indivíduos encontram explicações estranhas para eventos que não conseguem entender com a razão.

Seu livro mais recente, The believing brain - o qual será lançado em breve no País com o título Cérebro e crença, pela JSN Editora - trata exatamente disso. Nele, o autor delineia um panorama das associações e dos processos envolvidos na mecânica cerebral da crença. "O cérebro é uma máquina de crenças", diz Shermer. "A partir dos dados sensoriais que fluem através dos sentidos do cérebro, naturalmente se começa a procurar e encontrar padrões, e então se infundem significados a esses padrões".

Isso é bem verdade. É preciso treinar muito para ir contra a tendência que temos de tentar encontrar explicações e ver um sentido maior em eventos aleatórios. eu sei o quanto precisei me esforçar para abandonar esse "defeito de fabricação" e agora isso realmente chega a ser grotesco de se ver nos outros.

Para explicar suas teorias e fomentar o ceticismo, o mestre em Psicologia Experimental e Ph.D. em História da Ciência espera ser recebido por pessoas "curiosas e apaixonadas por compreender o mundo" em Porto Alegre, dia 27, e São Paulo, dia 29.

Confira a seguir a entrevista completa com Shermer.

Terra - O que significa ser cético?

Michael Shermer - Ceticismo significa investigação cuidadosa. É manter a mente aberta, mas não tão aberta que seu cérebro caia fora e você passe a acreditar em tudo. Ceticismo é ciência, e os cientistas são céticos porque a maioria das ideias acaba se revelando falsa. Assim, a posição padrão da ciência e do ceticismo é a dúvida: eu duvido até que provem o contrário.

Os céticos acreditam na ciência, na razão e na racionalidade. Os céticos acreditam que a mente humana é capaz de resolver problemas e melhorar nossas vidas através da razão. Os céticos são otimistas que têm esperança para o nosso futuro contanto que possam usar a razão e a ciência.

Eu diria isso de forma diferente. Há um grande espaço entre o acreditar e o aceitar uma hipótese. Sempre que me perguntam em que acredito, minha resposta é categórica: não acredito em nada. Acho até estranho o uso do termo "acreditar". Para mim, parece algo subjetivo, uma escolha sem base.

Preferiria dizer que os céticos aceitam determinadas hipóteses porque elas vêm acompanhadas das respectivas evidências e aquelas que carecem de evidências ficam em um status de "espera" até que sejam devidamente provadas.

Terra - Qual é o objetivo da ciência em um mundo que procura tanto o sobrenatural? 

Shermer - Ciência é um método para responder perguntas sobre o mundo natural com explicações naturais (não sobrenaturais). Ciência é um método sistemático para testar hipóteses acerca do mundo, métodos que podem ser empregados em qualquer lugar, por qualquer pessoa, a qualquer momento. A ciência é aberta e provisória; não Verdades (com V maiúsculo), mas conclusões provisórias baseadas em evidências que podem ser derrubadas se novas evidências surgirem.

Terra - Como pode um cientista ser religioso? 

Shermer - Muitos cientistas são religiosos, mas eu acho que eles empregam o que eu chamo de logic-tight compartments (NR: compartimentos cerebrais impermeáveis à lógica) quando eles têm crenças conflitantes. A religião faz coisas que a ciência não faz (como grupos que cozinham sopa e cuidam das pessoas pobres e necessitadas), e a ciência faz coisas que a religião não faz (como a execução de experimentos e coleta de dados para testar hipóteses sobre o mundo).

Terra - O que você acha de James Randi, que oferece US$ 1 milhão para quem provar ser um verdadeiro paranormal? 

Shermer - Eu amo o James Randi. Ele é meu amigo e mentor. James Randi é o padrasto do movimento cético moderno. Seu desafio de 1 milhão é uma das coisas mais importantes na história do ceticismo.

Terra - Sobre o seu livro Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas (Why People Believe Weird Thing), há uma resposta fácil para esta pergunta? Por que as pessoas acreditam em coisas como horóscopo, tarô, médiuns, óvnis? 

Shermer - A principal razão para as pessoas acreditarem em coisas estranhas é porque nós precisamos acreditar em coisas, no geral. Nós fazemos isso procurando padrões na natureza. Nós somos buscadores de padrões. Eu chamo isso de "padronicidade", a tendência de encontrar padrões significativos em ruídos sem sentido. Ufólogos veem um rosto em Marte. Religiosos veem a Virgem Maria ao lado de um edifício. Paranormais ouvem pessoas mortas falarem com eles através de um receptor de rádio. Os téoricos da conspiração acham que o 11 de setembro foi obra da administração do presidente Bush. É claro que alguns padrões são reais: os germes causam doenças, o DNA é a base da hereditariedade e o presidente Lincoln foi assassinado por uma conspiração. Então a dificuldade está em determinar a diferença entre os padrões verdadeiros e falsos.

Quando nós enganosamente acreditamos ter encontrado um padrão, existem dois tipos de erro: o erro tipo 1, o falso positivo, é acreditar que algo é real quando não é; o erro tipo 2, o falso negativo, é não acreditar que algo é real quando é. Por exemplo, acreditar que o farfalhar da grama é um predador perigoso quando é apenas o vento é um erro tipo 1. Isso não é um grande problema, mas acreditar que um predador perigoso é apenas o vento é um erro tipo 2, que pode custar a vida de um animal. Portanto, teria havido uma seleção natural na evolução dos animais (incluindo primatas como os nossos ancestrais hominídeos) por simplesmente acreditar que todos os padrões são reais. Tais padronicidades, então, significam dizer que as pessoas acreditam em coisas estranhas por causa da nossa necessidade evoluída de acreditar em coisas não estranhas.

Terra - Há quem afirme enxergar espíritos, ouvir vozes e até conversar com seres que já faleceram. Esse tipo de relato é mentiroso? 

Shermer - As experiências que as pessoas têm são reais. O que essas experiências representam é algo completamente diferente. A maioria das pessoas não são mentirosas - elas acreditam naquilo que elas pensam ter visto. Mas, na maioria dos casos, elas interpretam erroneamente a experiência.

Aí etá uma frase muito bem colocada. Em debates vivo tocando nesse assunto, que muitos proponentes do sobrenatural estão mentindo, ainda que não estejam tentando nos enganar. O caso é que eles realmente acreditam em determinado evento, mas não sabem que tudo não passou de um erro de interpretação.

Terra - Em uma outra entrevista, você comentou sobre a diminuição da religiosidade na Europa e nos EUA. Aqui no Brasil, no entanto, não se nota essa tendência. Qual é o motivo? 

Shermer - Eventualmente, a religiosidade vai diminuir no Brasil e nos outros países da América do Sul, à medida que cresce a prosperidade e a confiança das pessoas nos sistemas políticos e econômicos. Uma razão pela qual a religião ainda cresce no Brasil, e em outros países, é que os níveis de confiança entre as pessoas nestes países sul-americanos é baixa, segundo os economistas. As pessoas se voltam para a religião quando seus governos não fornecem uma estrutura social sólida.

Terra - Em seu livro mais recente, The believing brain, você sintetiza 30 anos de suas pesquisas a respeito de como as pessoas formam suas crenças. Dá para sintetizar ainda mais? 

Shermer - Minha tese é simples: nós produzimos nossas crenças por uma variedade de razões subjetivas, pessoais, emocionais e psicológicas no contexto de ambientes criados por familiares, amigos, colegas de trabalho, da cultura e da sociedade em geral; após a formação de nossas crenças, nós então defendemos, justificamos e racionalizamo-as com uma série de razões intelectuais, argumentos convincentes e explicações racionais. Crenças vêm em primeiro lugar, e as explicações para as crenças, a seguir.

O cérebro é uma máquina de crenças. A partir dos dados sensoriais que fluem através dos sentidos, o cérebro começa a procurar e encontrar padrões, e então se infundem significados a esses padrões. O primeiro processo eu chamo padronicidade: a tendência para encontrar padrões significativos em ambos os dados, significativos e sem sentido. O segundo processo eu chamo agenticidade: a tendência de infundir padrões com significado e intenção. Nós não podemos evitá-lo. Nossos cérebros evoluíram para ligar os pontos do nosso mundo em padrões significativos que explicam por que as coisas acontecem. Estes padrões significativos se tornam crenças.

Uma vez que as crenças são formadas, o cérebro começa a procurar e encontrar evidências que confirmem e apoiem essas crenças, o que acrescenta um impulso emocional de mais confiança nas crenças e, assim, acelera o processo de reforçá-las, e o processo se transforma em um retorno positivo de confirmação da crença. Bem como, ocasionalmente, as pessoas formam crenças a partir de uma única experiência reveladora em grande parte livre de seu passado pessoal ou da cultura em geral. Mais raro ainda, há aqueles que, ao pesar cuidadosamente as evidências a favor e contra uma posição que já possuem, ou que eles ainda têm de formar uma opinião a respeito, calculam as probabilidades e tomam uma decisão drástica, sem emoção, e não olham para trás.

Essas reversões de crenças são tão raras na religião e na política, que geram manchetes de jornais quando envolvem alguém de destaque, como um clérigo que muda de religião ou um político que muda de partido. Isso acontece, mas é tão raro quanto um cisne negro. Reversões de crenças acontecem com mais frequência na ciência, mas não tão frequentemente como se poderia esperar da visão idealizada do exaltado "método científico", no qual apenas os fatos contam. A razão para isso é que os cientistas são pessoas também, não menos sujeitos aos caprichos da emoção e à força dos traços cognitivos que moldam e reforçam crenças.

Terra - Você está trabalhando em algum novo livro? 

Shermer - Meu próximo livro é The Moral Arc of Science: How Science Has Bent the Arc of the Moral Universe Toward Truth, Justice, Freedom, & Prosperity. O livro trata do arco da moral do universo que se volta na direção da verdade, da justiça, da liberdade e da prosperidade, graças à ciência - o tipo de pensamento que envolve razão, racionalidade, empirismo e ceticismo. A Revolução Científica liderada por Copérnico, Galileu e Newton foi tão transformadora, que os pensadores de outros campos conscientemente buscaram revolucionar o mundo social, político e econômico usando os mesmos métodos da ciência. Isso levou à Idade da Razão e do Iluminismo, que por sua vez criou o mundo moderno secular de democracias, direitos, justiça e liberdade.

Terra - Quem você espera que vá te assistir no Fronteiras do Pensamento? 

Shermer - Espero que pessoas interessadas em ciência e no pensamento, pessoas que sejam curiosas e apaixonadas por compreender o mundo.

Fonte: Terra (Esqueci de copiar o link, mas estou citando a fonte e é isso que vale).

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