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quarta-feira, 13 de junho de 2012

A praga do Politicamente Correto

Esta postagem vem para inaugurar um novo tipo de assunto no blog. Foi uma sugestão de meu amigo Kleber para que falasse e expressasse minhas opiniões sobre temas polêmicos. Pensando um pouco aqui, resolvi falar um pouco sobre essa praga que assola nosso mundo, que é o movimento do Politicamente Idiota Correto.

Pretendo falar um pouco sobre o que acho desse tipo de movimento, sobre suas atitudes e no meio, colocar uma opinião sincera quanto ao que eu acho tanto do movimento em si como daqueles que fazem parte disso e o que considero que está implícito nas atitudes dos que ainda defendem essa imbecilidade. Mas primeiro, algumas coisas que quero colocar para evitar desgastes futuros. 

  1. Leiam e releiam estes considerandos até que tenham entendido completamente. Comentários que deem a entender que esta parte não foi lida e entendida serão ridicularizados sem dó.
  2. Vou usar sim palavras tomadas como politicamente incorretas, como gordo, aleijado, preto e outras. E se alguém se ofender com o uso delas no contexto que vou usar, que vá se tratar. Ou melhor ainda: se mate.
  3. Representantes de grupos de minorias que sejam panacas que só querem aparecer tomem cuidado com sua forma de interpretar as coisas e verem insulto em tudo. Burrice real ou sua forma mais grave, a fingida, não é bem-vinda aqui.
  4. Adianto que minha opinião é completamente contrária ao politicamente correto, acho uma tremenda hipocrisia. Se isso o ofende, se mate. Nem vá se tratar porque gente como você nem com tratamento.
Esclarecidas as questões, vamos começar.


Acho que já adiantei em cima o que acho do movimento do politicamente correto: ima hipocrisia recheada de imbecilidade. E isso para dizer o mínimo e tentar ser gentil. A percepção que até o momento tive dos defensores dessa coisa é primeiro a de que o que eles fazem é tentar matar uma árvore cortando os galhos, deixando que a raiz fique intacta e em segundo lugar, muitos se fingem de burros (ou o são mesmo, vai saber) para ter assunto para polemizar. Em terceiro lugar, acho errado mutilar o idioma com o argumento de uma luta contra o preconceito.

De fato, se formos parar para raciocinar, a atitude de muitos dos politicamente idiotas corretos começou com a condenação de determinados termos do idioma porque foram considerados ofensivos. Assim, o simples uso desses termos já passou a ser considerada uma mostra de discriminação. Há, porém, um detalhe aí que eles se esquecem, ainda que esteja sendo muito recorrente hoje: ignorar o contexto. Vejamos:

Hoje, se alguém chamar um negro de preto, está cometendo racismo para alguns. Está mesmo? Já pararam para ver no dicionário o que significa a palavra preto? Tenho par amim que o que vai dar a conotação ofensiva ou não a determinada palavre é o contexto e não seu simples uso. Tenho um belíssimo exemplo disso que colocarei aqui mais para frente, mas vou citar um simples agora:

Virar para um negro e dizer: "Só porque você é preto e eu sou branco não significa que não podemos ser amigos", dependendo do assunto, principalmente se o assunto discutido for exatamente em como a discriminação é errada é bem diferente de se dizer o famoso "Olha o serviço de preto que você fez aí!", referindo-se a algo mal feito. Concordo que o segundo é um claro exemplo de racismo, mas o segundo não. O triste é que os politicamente burros muitas vezes fazem vista grossa ao contexto e o simples uso da palavra condenada já serve para uma confusão infernal.

Outros exemplos são o de que agora a palavra "gordo" está condenada. É preciso usar o termo "obeso". Os mais divertidos são o que eu chamo de "eufemismos alongados" ou então os "eufemismos genéricos". Vou explicar: "cego" foi condenado. Agora houve a promoção a "portador de deficiência visual". "Aleijado" também está proibido. Virou também "portador de deficiência física". Viram como as coisas se alongaram? 

Ou então, como o "eufemismo genérico", preferem o termo mais generalista. Chamam de "especiais". Caramba, vejam a imprecisão do termo. Especial??? Em que? De certa forma, todos somos especiais em algum sentido, mas usar o termo para se referir a deficiências, é demais para minha cabeça.

Não sei se é isso o que muitos sentem, mas como ex gordo (obesidade mórbida), eu odiava ouvir os outros virem cheios de dedos cheios de rodeios para não usar o termo gordo. Meu sentimento era como se constantemente estivesse escutando algo como "isso que você é, é algo tão repugnante que eu vou usar um termo mais suave para disfarçar e não dizer". Quantas e quantas vezes interrompi os outros para pedir que usassem mesmo o termo "gordo" porque aqueles rodeios eram irritantes.

E mais ainda: eu sempre tive inteligência para saber diferenciar os contextos. Só uma vez arranjei briga por causa de ter sido chamado de gordo. Fui dar marcha a ré no carro quando uma garota idiota se atravessou atrás do carro (para ela, as luzes de ré são meros enfeites, ou não tinha olhos mesmo). Ainda assim, quando o carro se aproximou, ela deu um tapa no porta-malas, eu freei, ela passou, olhou e disse: "tinha que ser gordo mesmo". Isso sim é uma discriminação. Bem diferente de um comentário de alguém comentar que eu estava gordo demais para usar determinada roupa, ou para praticar certo esporte que era exigente demais.

Aí, martelamos novamente na tecla do se fingir de burro (ou ser burro mesmo) para não levar o contexto em consideração. É tão difícil assim raciocinar? Concordo que há situações nas quais a linha separadora é muito tênue. Mas há outras em que ela é evidente. A meu ver, abolir o uso dos termos é um extremo desnecessário. Por que não assumir logo, aceitar: "Sou *** mesmo. Que mal há nisso? Algum problema para você?" Onde está ***, substitua-se por preto, aleijado, cego, mongoloide, bicha, gordo etc.

Me pergunto se os que defendem esse negócio de mutilar o idioma realmente acreditam que abolir termos e fingir que não existem realmente vai acabar com o preconceito. Acho mais provável que somente o vá mascarar. Os preconceituosos param de usar o termo, mas o preconceito e a discriminação continuam em seu íntimo e em seus atos. Não seria melhor educar e orientar?

Mas não, é melhor aceitar que a palavra carrega em si toda a ofensa e ignorar completamente o contexto. Preguiça de pensar dá nisso, acaba atrofiando o cérebro e levando a idiotices cada vez maiores. Veja-se as várias polêmicas que foram, são e serão ainda causadas por aqueles que pegam uma frase que é parte de algo muito maior e resolvem criar polêmica. Depois, ao se encaixar aquela frase no contexto, percebe-se que tudo aquilo que foi dito não passava de idiotice pura, porque o sentido era completamente diferente. Que o digam certas vítimas famosadsdisso, como FHC (esse merece coisa pior, mas tenho que ser honesto), Luana Pivani, Sandy e outros.

Gostaria sinceramente que os defensores dessas práticas parassem para pensar se realmente é necessário mutilar o idioma. E Observem certas situações absurdas que algo mais extremo criaria. Sei que não necessariamente chegaremos a esse ponto, mas seriam situações meio engraçadas.

Se um cego estivesse indo na direção de um bueiro aberto, se alguém gritasse "Ei ceguinho, olha o buraco", seria mesmo discriminação? Se ele dissesse "Ei, portador de deficiência visual, cuidado com o ..." Ele já caiu. No lugar dele, eu preferiria ser chamado de cego e agradeceria o bom samaritano, não me ofenderia.

Se não se pode mais chamar alguém de aleijado, como deveríamos passar a chamar nosso artista mineiro Aleijadinho? Portadorzinho de Deficiência Física ou Especialzinho?

E no caso de carros, o ponto cego não poderia ser mais chamado assim. Seria ponto portador de deficiência visual, ponto deficiente visual, ou ponto especial? O mesmo seria para uma lâmina ou broca, que não ficariam mais cegas. O que seria mais apropriado?

Claro que os exemplos citados são apenas brincadeiras com a falácia do declive escorregadio, mas é algo a se pensar sobre os problemas de tentar resolver problemas de discriminação simplesmente condenando palavras e não atos dentro de contextos. Acho que os defensores do politicamente correto devem passar por um processo de reeducação e recuperar o hábito de raciocinar.

Mas a brincadeira me remeteu para outro assunto que agora também virou moda em nosso universo idiotamente politicamente correto: piadas e comparações com animais.

Recentemente, Alexandre Pires foi malhado porque ele e outros se vestiram de macacos em um clipe. Acusaram-no de discriminar a própria raça. Achei isso o cúmulo do ridículo. Tive a percepção de que para esses guardiões do politicamente correto, até mesmo uma piada ou o mero ato de vestir uma fantasia também se tornaram atos de racismo.

O que está acontecendo? Não se pode mais brincar? Vocês estão se esquecendo da diferença entre uma ofensa e uma piada ou oma ofensa real? Ou então, o mais provável: estão se fingindo de burros (desculpem meu engano, lá vai o termo politicamente correto) de portadores de inteligência singela apenas para aparecer na mídia? Acho que eles podem tentar honrar sua raça fazendo melhor do que isso. O coitadismo só serve para reafirmar velhos preconceitos e criar outros piores. Melhor tomarem cuidado.

Pela lógica de alguns, porque alguém foi idiota o suficiente para comparar um negro com um macaco, eles precisam aceitar essa idiotice e ser mais idiotas ainda aceitando que essa comparação é uma ofensa em qualquer contexto que seja. E tome-lhe falta do que fazer.

Já estou meio cansado de escrever. Se for o caso, atualizo mais tarde o artigo. Agora, para finalizar, vai o exemplo que prometi sobre o uso do termo preto para se referir aos negros. Leiam o texto que segue e ao final, sejam bem sinceros:

A Última Crônica

Fernando Sabino



A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.

A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres   esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho -- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura -- ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido -- vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso. 

Agora, digam sinceramente: no terceiro parágrafo, o autor usa o termo "um casal de pretos". Até coloquei em negrito. Lendo o texto inteiro, pode-se dizer que ele o usou em com o intuito de ser racista, ou de ofender? O texto ao menos para mim, parece mais uma homenagem do que um manifesto racista. Fica o tema para todos raciocinarem e comentarem.

Lembrem-se: somente comentários pertinentes.

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