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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Decreta-se a língua portuguesa como fora-da-lei!

Vi hoje esta postagem no site Ceticismo.net e como grande fã da Flor do Lácio que é nosso idioma, precisei compartilhar aqui. De fato, vivemos em uma triste época. Se antes, para uma dificuldade de aprendizado a solução eram aulas de reforço, ou em casos mais extremos a repetência, agora vemos a ignorância, a burrice premiadas como sendo algo normal, comum e correto.

Apenas me vejo obrigado a discordar do André em um ponto: não acredito que nossa nobre língua venha um dia a ser substituída pelo miguxês (particularmente chamo de panaquês), tenho plena convicção de que estão é tentando tornar nosso idioma uma versão real da Novilíngua, no melhor estilo George Orwell.

Enfim, vamos ao artigo:


Sim, pois é só isso o que falta!

Estamos num caminho sem volta, rumo à ignorância. Estamos sem salvação frente à massa ignorante, apedeuta, débil mental, analfabeta e estúpida. Um povo que se recusa a aprender qualquer coisa. Um povo cuja maior ostentação foi ter um analfabeto na Câmara dos Deputados e um ignorante se sentir orgulhoso por ser ignorante e ter chegado à Presidência.

É o pais dos atoleimados, dos vis, dos pulhas, dos biltres, dos descompassados, dos torpes, dos pusilânimes, dos desclassificados, daqueles que me dão vergonha de possuírem características de Homo sapiens, mas deveriam ser enquadrados como Homo idiotens.

O Cardoso encaminhou um twit de um trecho da coluna do Ancelmo Góis. O trecho pode ser lido aqui, o qual reproduzirei:

Homem sem ‘H’
A maioria dos brasileiros nem se acostumou direito com a morte do trema e outras mudanças do acordo ortográfico, e já tem gente querendo mexer de novo na gramática.
O Grupo Técnico de Trabalho (GTT), formado pela Comissão de Educação do Senado, propõe a eliminação de vogais e consoantes não pronunciadas, como o “qu” e o “gu”, em “querer” e “guerra”, e o “h” em “homem” e “hotel”.
No mais…
O professor Ernani Pimentel, coordenador do GTT, dá razões econômicas para defender nova mexida na língua portuguesa.
Segundo ele, o país pouparia até R$ 2 bilhões por ano na educação graças à diminuição das horas reservadas ao ensino da ortografia.
Eis uma “qestão” polêmica. Cartas para a Redação.
Bem, tem político no meio, só podia dar merda. Tem o MEC no meio, só podia piorar. Tem um bando de idiotas, provavelmente pedagogos, o que pode ser pior?


É uma ópera-bufa. Um acinte, um acicate, um despautério, uma ignomínia, um destampatório, um estupro à língua portuguesa. E isso por quê? Por que um bando de gente estúpida, ignorante, acéfala, portadoras de sérias debilidades cognitivas, possuintes do pior das atrofias neurológicas, acha que escrever "QU" na frente de "quero" é complicado. Daí, o retardado mental sugere o quê? Aulas de reforço? Não! Melhoria do ensino? Para quê? Melhor é tirar o ‘QU" e substituir por "K", porque a língua portuguesa é difícil demais para as crianças. Eu nunca vi uma criança errar com "QU", mas para os analfabetos deste sitezinho mequetrefe, manicaca e beócio, o português deve ser simplificado, tornando-o miguxês.

Dizer que "O país economizaria 2 bilhoes de reais" é tirar onda com a minha cara. Só procurando na cavidade anal que o sujeito encontrou este número durante o processo de alfabetização.

Ainda hoje vi uma conversa no twitter. Estava-se comentando a bizarrice de alguém aqui no Brasil chamar a castanha-do-Pará de castanha-do-Brasil (como é chamada lá fora). Daí, eu, do alto da minha inocência, achava que podia usar impunemente uma expressão sarcástica, dizendo "Mas… Mas… Mas… o Pará não fica no Brasil?"

Qualquer criatura quadrúpede, dotada de unha, pertencente à ordem Soricomorpha, sendo representante da família Talpidae teria percebido que era uma brincadeira. Mas, não! Eu caí no erro de achar que as pessoas tinham competências e habilidades na língua portuguesa quais as minhas. Ledo engano e começo a ser enxovalhado, pois é isto que ignorantes que não param para pensar fazem.

De quem é a culpa? Minha, é claro. Eu não cheguei perto do inter-locutor. Eu não consegui deduzir de antemão o seu grau intelectual ou capacidade cognitiva. Em suma, o erro é meu por ter "falado difícil", deveria ter simplificado!

É este o mundo que criaram! Um mundo pobre, um mundo sem o brilho das figuras de linguagem. Um mundo baço, estéril, pobre, sem a riqueza d’outrora. Um mundo sem ter porque ler e escrever, a despeito do que o Simplificando a Ortografia diga. Ninguém escreverá, pois ninguém lerá.

Chegaremos no tempo em que Khmer Vermelho mandava prender pessoas que usassem óculos. Se usavam óculos, eram intelectuais. Se eram intelectuais, eram inimigas da revolução proletária.

O Brasil está se tornando um novo Camboja e vários estão querendo o lugar de Pol Pot.

Seremos condenados a nos esconder em cavernas, para ler os antigos clássicos (não aprovados pelo Estado). Começamos com Monteiro Lobato, o próximo será Lima Barreto, Camões e tantos outros. Todos os que escreveram num português inspirador, num idioma belo e que traz a vívida sensação de deslumbramento para com a cultura serão considerados fora-da-lei. Seremos perseguidos, humilhados e achincalhados.Seremos perseguidos em nossos blogs, nos nossos perfis, em casa, no trabalho e na escola. E todos tentarão nos moldar, para que sejamos como a maioria ignara, e que nos curvemos à nova "sabedoria reinante". E teremos que baixar a cabeça e concordar, certo?



4 comentários:

  1. Discordo plenamente, para começar, o texto é fervilhado de ataque Ad Hominem e Reductio ad Absurdum.
    ''Qualquer criatura quadrúpede, dotada de unha...''
    ''É o pais dos atoleimados, dos vis, dos pulhas...''
    ''Estamos num caminho sem volta, rumo à ignorância.''
    Agora, respondendo de maneira mais direta, a proposta foi colocada como prova da incapacidade brasileira. Mas talvez não saiba que o Português é talvez um dos idiomas ocidentais mais difíceis e menos práticos. Primeiramente, a escrita diversas vezes pouco condiz com a fonética (até por isso veio a proposta da remoção do H).
    Mas mais do que isso, a gramática do nosso idioma é extremamente incoerente e tampouco regular, a conjugação verbal temporal (passado, presente e futuro) costumam não seguir um padrão e o jeito mesmo é a ''decoreba''. Veja o verbo medir, o passado é medi, mas o presente é meço, como pode aparecer o raio do cedilha assim? Neste aspecto, o português talvez seja o mais complicado do mundo ocidental, pior mesmo que o alemão.
    O inglês, por sua vez, é festa, para o passado é basicamente adicionar o 'ed' no radical e para futuro, só usar o 'will' no infinitivo.
    Esta proposta deixa a língua mais feia? Sim, sem dúvidas, mas isto por causa do costume com o ''correto''. Um idioma serve para unificar, não para divergir, serve para compreensão, não para escrever poesia. O único argumento apresentado pelo texto foi questões culturais, mas cultura NÃO é argumento.

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    1. Sinceramente, o que vi no texto que o André escreveu não foram falácias "ad hominem" (mais detalhes no Gia de Falácias aqui no site). O que vi foi a justa indignação de alguém que percebe o absurdo dessa ridícula proposta de lei.
      O idioma Português é difícil? Creio que não. Para quem estuda, se interessa e dedica um pouco de seu precioso tempo para estudar ao invés de ficar com frivolidades, nossa gramática ao contrário do que é alegado, é bastante coerente sim. Quanto a nossa ortografia não ser muito coerente com a fonética, faça-me rir. Isso existe em outros idiomas também, afinal nossa escrita não é fonética como o Árabe por exemplo.
      No que diz respeito aos verbos serem "decoreba", típico discurso de quem não tem costume de ler. Todos aqueles que dedicam um pouco de seu tempo com o bom hábito da leitura pegam o jeito rapidamente sem problemas. Tudo é questão, como disse antes, de se interessar e se esforçar um pouco.
      Agora, se pararmos para raciocinar um pouco (não sei se é esse seu costume), perceberá também que a indignação do autor e minha também, é quanto ao argumento utilizado para mutilar o idioma. Como os nossos floquinhos de neve estão tendo dificuldades em aprender, vamos descer o nível para que eles possam alcançar sem precisar se aprimorar. E ainda economizamos dinheiro com isso. Para nós que somos contra essas reformas regressivas, o ponto é esse. Por que a primeira proposta não é melhorar o ensino no país? Por que não investem em projetos para incentivar o hábito da leitura? Talvez porque isso criaria um número maior de gente intelectualizada questionadora. O que eles querem é massa burra de manobra.
      Todo o aprendizado requer dedicação. E o Português não é exceção. Agora fica um tema para ser pensado: por que 30 anos atrás (um pouco mais no meu caso), quando as crianças apresentavam dificuldades para aprender, se falava em melhorar a forma de ensinar e o fato gerava um esforço maior do educador e hoje isso parece fora de questão? Hoje se a criança tem dificuldades com a complexidade da matéria, fala-se logo em eliminar ou empobrecer o conteúdo?
      E cultura é argumento sim. Pelo menos para quem a valoriza e quer ver progresso no país no que tange a ela e não regressão. Agora quem não valoriza a cultura, realmente não está nem aí. O melhor é simplificar mesmo até que ninguém mais se torne culto. Como alguém já falou uma vez, "para que decorar a tabuada se existe calculadora"? Eu iria mais longe: para que aprender a ler se existem vídeos?

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  2. ''Quanto a nossa ortografia não ser muito coerente com a fonética, faça-me rir. Isso existe em outros idiomas também, afinal nossa escrita não é fonética como o Árabe por exemplo.''
    Existe em outro idiomas? Sim, existe. Mas não em todos, o russo é totalmente coerente com a fala. Você, que adora sugerir que os outros nunca encostaram em um livro, poderia agir conforme o que fala e verificar o que estou falando. Árabe é ainda pior, o fundo do poço no que se diz respeito a praticidade, cada letra, dependo da posição em que está na palavra, e até se está isolada, tem um forma própria. Neurólogos inclusive já fizeram estudos averiguando que no que diz respeito a escrita, é o mais difícil.

    ''Por que não investem em projetos para incentivar o hábito da leitura?''
    Tornar o idioma mais prático vai eliminar a leitura?

    ''Como os nossos floquinhos de neve estão tendo dificuldades em aprender, vamos descer o nível para que eles possam alcançar sem precisar se aprimorar.''
    Não confunda simplificação com exclusão de conhecimento. Coloco como exemplo a substituição dos algarismos romanos pelos indo-arábicos, mais simples e coerentes, um vez que com apenas dez caracteres é possível transcrever qualquer número, enquanto que os algarismo romanos exigem o conhecimento de diversos símbolos e ainda que sejam inventados símbolos novos cada vez que fosse encontrado um número demasiadamente grande. Diga-me, nossa matemática ficou pior? Claro que não, evoluiu, pois a democratizou. Com um sistema de escrita condizente com a fonética, poderemos ter a expansão do conhecimento.

    ''Todo o aprendizado requer dedicação. E o Português não é exceção.''
    Obrigado por contar o óbvio.

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    1. Espere um pouco aí. Eu sei bem o que falo quando digo que o Árabe é uma língua com escrita fonética. Eu falo, leio e escrevo em Árabe e tirando essa parte de algumas letras terem formas diferentes dependendo da posição na palavra, cada fonema do idioma corresponde a um único caracter e cada caracter corresponde a um único fonema na língua. Já a parte da complexidade vem da sinonímia que é extremamente vasta e não da escrita em si. O Português não é assim, paciência. Assim como o Francês, que é até mais complexo que nossa língua. Só para citar um exemplo, eles têm um tempo verbal a mais que o nosso e se formos falar nos verbos irregulares, a coisa piora ainda mais.
      O que realmente questiono assim como o autor do texto é querer mutilar o idioma para diminuir a carga horária do aprendizado, ou "facilitar" como ele diz. O que aconteceu com a Matemática não tem ralação com o caso. Algarismos romanos tornam cálculos complexos quase impossíveis e por isso houve a substituição.
      Agora, por acaso me diga: esse tipo de iniciativa existe para outros idiomas em países desenvolvidos? Vemos alguém querendo "simplificar" o Francês, o Mandarim, o Alemão ou outra língua que tenha um nível de complexidade maior? Não. Só aqui mesmo, Até mesmo em Portugal, nunca se viu nada parecido, para os outros a solução é melhorar o ensino e não mudar a matéria.
      Não confunda, não sou contra a praticidade. Mas que as coisas sejam feitas pelas razões corretas. O fato de haver dificuldades no aprendizado não é motivo suficiente para isso.

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Leiam as Regras e entendam-nas antes de comentar.

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