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segunda-feira, 5 de março de 2012

Argumentos religiosos: Argumento da Moralidade Objetiva

Estava eu entediado pesquisando a internet quando me deparei com certo site criacionista e resolvi parar e ler algumas coisas que o autor colocava lá, pois sempre gosto de me manter atualizado das últimas "pérolas crentais". No meio de tantas falácias, principalmente a quela que assume que algo ainda não provado é verdade, o autor constrói um verdadeiro castelo de cartas. E bem frágil por sinal.

Descobri ainda que o autor é da Igreja Adventista. A meu ver, isso já compromete em muito a credibilidade. Se formos ver a doutrina dessa igreja e levar em consideração os fatos apresentados no documentário que postei aqui no site, o Deus na Mente, aí a coisa fica ainda mais difícil para o lado deles.

Mas vamos ao ponto que resolvi tratar hoje que se trata de um comentário que vi no referido site sobre os argumentos que os religiosos usam para tentar provar a existência de Deus. Vi então um texto que falava sobre o assunto e pelo que deram a entender, o maior argumento na opinião deles para comprovar a existência de seu amigo imaginário é a existência de uma tal de "moralidade objetiva". Pesquisei o assunto na net e depois de uma análise, realmente á algo considerado por muitos como o argumento mais estimado pelas Ovelhinhas do Senhor.

Depois de uma boa pesquisa sobre o tal argumento e agora posso dizer que se essa for a melhor arma que eles tâm para nos convencer, a situação está ruim para o lado deles. Vamos agora analisar esse "melhor argumento", ver seus prós (se houver algum) e contras e nos manter preparados para tosquiar qualquer Ovelhinha do Senhor que resolver usá-lo. fica aqui a dica para os crentes de plantão que mentir é pecado. Se forem usar um argumento qualquer, pelo menos TENTEM ser honestos. É um dos dez mandamentos, que vocês supostamente teimam em seguir, ainda que digam que o Velho Testamento não tenha mais valor, por causa de um certo mendigo palestino que montou no jegue e depois de crucificado virou zumbi.


Corro o risco de ser mal interpretado, mas até pediria aos sites de apologética que retirem o presente argumento. Sim, defendo os sites de apologética, ainda que seja um ateu. Eles costumam ser muito bons em emnsinar os crentes que os Lêem sobre os argumentos que existem e quais devem ou não ser usados. Isso evita que crentes utilizem certos argumentos que são verdadeiros desastres.

O argumento

Basicamente, o conceito de moralidade objetiva, ou absoluta tenta nos mostrar que a existência de uma moral objetiva no universo implica na existência de Deus. Assim, a moral objetiva só existe porque existe um ser superior que a passou para nós humanos. Eles também alegam que essas regras morais que todos seguimos implicam em desvantagens para o indivíduo e assim sendo, não seria possível que a evolução as explicasse.

Assim, para uma visão mais clara, podemos esquematizar o argumento teísta com o seguinte silogismo:

  • Se Deus não existe, valores morais objetivos não existem.
  • Valores morais objetivos existem.
  • Logo, Deus existe.



Contra-argumentação:

Claro que já existem algumas respostas prontas para essa armadilha lógica dos teístas. Particularmente, ainda bato na tecla de que eles assumen a existência de seu deus como comprovada. Sem isso, o argumento não valeria.

Em resumo, muitos rebatem o argumento de duas formas: ou alegando que uma moralidade absoluta não existe e outros dizendo que é possível haver uma moralidade objetiva sem que para isso seja necessário apelar para a existência de um ser sobrenatural. Particularmente, sou em parte a favor de ambas, mas cada coisa a seu tempo.

Em debate com Craig, John Shook alegou que o argumento da moral objetiva consiste numa falácia petitio principii porque, ao alegar que valores morais objetivos são transcendentais à razão humana, isso já pressupõe a existência de Deus.

De acordo com alguns filósofos como Austin Dacey, a existência de valores morais objetivos não é evidência da existência de Deus. Outros ainda são mais ousados, alegando até mesmo que o que realmente existe é o temor e a não aceitação da possibilidade de realmente não existir moral, tudo isso ser uma criação nossa. Ou mais precisamente, toda e qualquer moralidade é apenas subjetiva.

Diferentes moralidades entre sociedades

Uma objeção comum à premissa de que os valores morais são objetivos é a de que várias sociedades e povos construiram e acreditavam em valores morais distintos. Ainda que seja uma boa saída, acredito ser algo ainda um pouco incompleto. Realmente, sociedades têm valores morais diferentes, mas ainda vemos pontos em comuns nas visões de moralidade entre as várias sociedades existentes e que já existiram. Então, ainda que seja parte do contra-argumento, temos brechas nesta objeção.

O que é preciso ver é que as partes da moralidade que são comuns às diferentes sociedades tocam em pontos de necessidades básicas. E isso não precisaria ser explicado com um Deus. Apenas o fato de sabermos que o indivíduo quer viver bem e não quer sofrer, isso já seria um incentivo para que ele não fizesse maldades para os que estão próximos, para não sofrer nenhum tipo de represália. Não é uma garantia, mas a probabilidade de ser atacado diminui.

Mas explicarei isso melhor na próxima parte.

Opinião pessoal:

Parte do que imagino ser a resposta para o argumento já foi passado. Primeiramente, o maior problema dele, quando usado no contexto de prova da existência de Deus, é um pensamento circular: Já que Deus existe, existe a moral objetiva. Se existe uma moral objetiva, é porque Deus existe e nos deu essa moralidade. E se formos parar para pensar, ambas as afirmações funcionam em qualquer ordem. Mas para que uma seja verdadeira, precisamos assumir que a outra já é verdade inequívoca.

Melhor explicando o parágrafo acima, uma vez que a existência de Deus e a da moralidade objetiva estão ligadas, é preciso primeiro ou provar que Deus existe sem apelar para a existência da moralidade ou então, provar que realmente há uma moralidade objetiva que não possa ser explicada sem a hipótese da existência de Deus. E é aí que reside o grande contra-argumento. É praticamente impossível comprovar um ou outro.

De fato, provar que Deus existe de forma objetiva, sem apelar para crenças pré aceitas é impossível. Já a moralidade objetiva até que seria possível mostrar que existe, mas o problema é provar que ela está obrigatoriamente atrelada à existência de Deus. De fato, há outras explicações possíveis igualmente satisfatórias. E mesmo que falenos em um ser divino, os teístas precisariam especificar de qual Deus estão falando? O Deus judaico-islâmico-cristão? Bumba? Vishnu? Shiva? Hórus? Rá? Zeus? MEV? Alvis? E por aí vai. Isso sem falar dos outros dos panteões. A lista seria mesmo interminável.

A explicação para a existência da moral que é mais aceita no meio científico é de fato a evolutiva. Deixei isso passar de propósito no começo do artigo, mas agora chegou a hora de dizer. Realmente em uma visão mais restrita, a evolução não explicaria a nossa moralidade. Porém, se formos analisar em um âmbito macroscópico, vemos que há claras vantagens evolutivas para a espécie em determinados comportamentos ditos morais. E caso alguém saiba inglês, há um artigo interessante sobre isso no Talk Origins (Não vou traduzir tão cedo. Estou com preguiça e sem tempo, mas é desta entrada que estou falando).

De fato, olhando superficialmente há regras morais que não são compatíveis com a visão de alguns sobre o que é evolução. Principalmente no que diz respeito à regra de ter que sempre sobreviver o mais apto (ou mais forte) e que nenhum ser em ambiente de seleção natural gastaria seus recursos para ajudar um possível concorrente. Acredito que gente assim ainda imagina o meio natural como sendo um lugar povoado de "Highlanders", o tempo todo se enfrentando e gritando "Só pode haver um!!!!".

Nada disso. Há outras formas de garantir a sobrevivência, tanto de si mesmo como da espécie como um todo. E ouso dizer que a moral realmente não existe, é uma invenção nossa para tornar a vida em grupos possível. Se formos ver de um ponto de vista bem genérico, para o meio natural não há nenhuma diferença entre um ser sendo morto com requintes de crueldade pelos de sua própria espécie e um outro ser morrendo calmamente de velhice.

De fato, na natureza a maioria dos animais morre jovem devorado por um predador (muitas vezes comido vivo enquanto agoniza) ou por outros meios bem desagradáveis. É no que dá viver em um mundo especialmente projetado por um ser inteligente para que possamos viver bem.

Vejamos o caso do ser humano: somos seres gregários, assim como outros na natureza que também o são. Isso quer dizer que nossa natureza é de viver em grupos, em grandes comunidades. Ocorre que quanto maior o grupo e mais complexa a organização, coisas como regras morais e sociais acabam sendo criadas para tornar a sobrevivência desse grupo. E dentro desses grupos, os que forem melhores em criar laços de amizade e codependência se sairão melhor para garantir sua sobrevivência. Aquele que ajuda os outros, tem maiores chances de ser ajudado quando necessitar. E isso é importante dentro de uma comunidade.

Quanto à semelhança entre as moralidades de várias sociedades, se formos fazer uma análise mais imparcial, veremos que todas se referem às necessidades mais básicas do ser humano: vida, bem estar, não sofrer, viver bem e outras. Nesse caso, o que os teístas chamam de moral objetiva pode muito bem ser explicado como cada indivíduo fazendo seu melhor para respeitar as necessidades e vontades dos outros para ter as próprias também respeitadas e para não sofrer represálias. por parte do grupo.

Vemos então que ainda que a moralidade objetiva pode muito bem ser explicada por fatores evolutivos, como algo que foi vantajoso para a espécie e por isso acabou ficando. Nem sempre uma adaptação é 100% vantajosa. Na verdade, praticamente nenhuma é. Mas foi o melhor que conseguimos em sossos bilhões de anos de evolução.

Por fim, o texto como viram, não busca comprovar ou desmentir a existência de Deus. Tenho para mim que não existe, mas meu objetivo foi apenas mostrar aos religiosos que o argumento da Moral Objetiva não é bom; é frágil, falacioso e por isso deve ser tirado da lista de argumentos, principalmente de sites de apologética. Longe de ser o melhor argumento para a existência de Deus, para mim esse é um dos piores, perdendo apenas para os de apelo emocional e sentimental.

Vou deixar o espaço dos comentários para discussão. Tentem se ater ao conteúdo do texto e procurem ler o artigo inteiro antes de comentar. Quem começar a postar abobrinhas, borrachas e discursos crentoides inflamados, será sumariamente ridicularizado.

Assim, se não leu o artigo inteiro e/ou não tem nada para dizer, siga o conselho de Darwin aqui embaixo:


4 comentários:

  1. gostei do seu comentario,tive uma peleija com um teista em um video do youtube onde o famoso dr graig usava esse argumento da moral objetiva. defendi uma tese de minha propria autoria mas que confesso não ter certeza de sua sustentabilidade, gostaria que você me ajudasse com isso... claro se você dispor de tempo.
    argumentei que moral objetiva não existe pois sempre estivemos usando nossa moral subjetiva que em comum consenso atende nossas necessidades sociobiologicas(tudo que foi dito aqui) o problema vem agora repliquei que a existencia de moral objetiva implicaria em deveres morais que seriam definitivos e imutaveis, algo impossivel de existir e ou funcionar em um universo tão complexo(multiplas variaveis) e impermanente( que muda radicalmente o tempo todo sobre todos os aspectos inclusive os biologicos) gostaria de saber se minha analise da moral objetiva esta correta!!! desde ja agradeço.

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    Respostas
    1. Análise corretíssima a meu ver. Se encaramos a moral como uma série de regras que são seguidas principalmente para nos manter seguros e garantir a convivência, vamos para um outro patamar: seu surgimento.

      Quanto ao surgimento das regras, a única coisa que se pode dizer é que elas surgem para atender a necessidades, ou seja, houve um período em que elas não existiam e surgiram situações em que foi preciso criar um consenso sobre como lidar com aquilo. Com o tempo, acaba-se criando uma regra para atender a essa necessidade.

      Sinceramente, em um universo mutável como o nosso, e com a variedade de nuances que determinados acontecimentos podem tomar, ficaria impossível criar um conjunto de regras que fosse absoluto, mesmo que se pudesse prever o futuro.

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  2. A principio tenho que dizer que achei o artigo perfeito.
    Uma coisa que pude pensar é uma característica Bíblica que conflita, ao meu ver, com a ideia da moral objetiva e algo vindo de "Deus". Vamos lá:
    Sendo a moral algo proporcionado por "Deus", colocado no individuo e gerador de costumes sociais que temos hoje, essa mesma moral iria colocar em xeque a vontade do "Deus". Se bem observado a bíblia incita que existe as leis (regras, costumes, moral) dos homens e as leis(regras, costumes, moral) de "Deus e que devemos nos atentar a sempre cumprir a vontade do soberano e perfeito criador de tudo.
    Mas e quando a vontade de "Deus" vai contra a moral humana, ele não estaria voltando contra si? A ideia de colocar no individuo: "Não matarás" e dizer: Vá e mate! É algo absurdo e ilógico. Isso só mostra um "Deus" contraditório e falho.
    Outro ponto de vista é que SE "Deus" existe e tenha colocado a moral em "nossos corações" como os teístas pregam, assim como ele, um ser imutável, serio, que não mente e não se arrepende e só quer o bem de suas criações (o que também já foi colocado em xeque com inúmeras passagens bíblicas), a moral também deveria ser UNIVERSAL (já que só existiria o(s) Deus(es) de determinada religião) e imutável (como pregam os livros sagrados sobre seus criadores). Logo a ideia de escravidão, necessidade de guerras santas, machismo, discriminação, conceitos fundamentais de vida, morte e violências, deveriam ser únicas, o que não é verdade.
    A mudança de vários conceitos morais mostra que a vontade de "Deus" muda logo ele não é imutável, logo ele não é aquilo que a bíblia prega e podemos concluir assim que ele NÃO EXISTE. Isso sem falar da malevolência, características sádicas e cruéis desse suposto "Deus" que o contradiz e também o coloca em inexistência.

    Não sei se estou pensando certo. Gostaria de sua opinião.

    Ecrito por:
    Kaio Britto

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  3. O argumento circular é bom, a única coisa que eu acrescentaria nele é logo ir contra a moralidade objetiva. Eu acho um erro os ateus ficarem defendendo que moralidade objetiva. Não vejo motivos pra pensar que a moralidade não seja subjetiva

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Leiam as Regras e entendam-nas antes de comentar.

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