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sábado, 6 de agosto de 2011

A Falácia (de alguns) dos Argumentos Ateístas

Este artigo foi indicado alguns dias arás no Twitter por um religioso. Vou me abster de declinar a identidade dele. Ainda que a julgar pelo nome que ele usa e o teor de algumas de suas postagens no passarinho ele seja um fake, muitas vezes ele tem seus segundos de seriedade e posta coisas interessantes. E já tive conversas bem agradáveis com ele.

Mas vltando ao foco da questão, o autor do texto que voi transcrever mostra alguns dos argumentos utilizados por ateístas em debates e como eles são usados de forma falaciosa, intencionalmente ou não. Acho sempre interessante estudar essas coisas, porque há sempre a possibilidade de o outro lado reconhecer a falácia e fatalmente nos derrotar e essa derrota será humilhante.

Recomendo a leitura deste artigo juntamente com o Guia das Falácias de Stephen Downes. Lá, elas são explicadas com maiores detalhes. E lembrem-se: comentários do Árabe Doido estarão em verde.



Eu mesmo sou, é claro, um tipo de ateísta. Ainda assim, nunca deixou de me incomodar como muitos argumentos realmente ruins são usados por outros ateístas. (Para não mencionar os que eu próprio já usei!) Aqui vai uma lista de alguns deles. 

Sem evidências = Sem Deus 

Argumento: Os teístas não podem fornecer evidências convincentes da existência de Deus. Portanto, Deus não existe/os teístas estão errados ao acreditarem em Deus.

Explicação: Este é, às vezes, chamado de argumento evidencialista do ateísmo. Basicamente, ele afirma que, na ausência de evidências em favor de Deus, deve-se acreditar que ele não existe.

Paródia: Os ateístas não podem fornecer evidências convicentes da não-existência de Deus. Portanto, Deus realmente existe/os ateístas estão errados ao não acreditarem nele.

Refutação: Este argumento comete a falácia formal do apelo à ignorância, por presumir que a falta de provas da existência de Deus equivale a uma prova contra sua existência. Na verdade, a única coisa que a falta de evidências realmente permite é falta de crença em Deus, não a afirmação de que Deus não existe. Além do mais, mesmo se não houver absolutamente nenhuma evidência a favor da existência de Deus, isso não significa que os teístas são estúpidos. O teísmo, para muitos, poderia ser uma crença tão fundamental que não é sequer teoricamente sujeita à prova. Criticar uma crença com base em evidências, portanto, é semelhante a criticar, digamos, a crença na existência de outras mentes (o que, da mesma forma, definitivamente não é demonstrável).

De fato, este tipo de erro acontece muito em ambos os lados. Muitos ateus o cometem, assim como os religiosos em defesa de suas crenças. Creio que o maior cuidado deve ser sempre em não extrapolar as conclusões que se pode tirar dos fatos. Posso resumir que em ciência, não se prova a inexistência e a falta de evidências não é evidência da falta.

Recomendo ainda a pesquisa sobre o Dragão da Garagem. Por mais que se tente, é impossível provar sua inexistência.


Provar é mais fácil que desprovar
 

Argumento: É mais fácil provar a existência de algo que provar sua inexistência. A fim de provar que algo existe, é preciso apenas mostrar um caso de sua existência; já para provar que algo não existe, é preciso vasculhar cada parte da realidade. Portanto, cabe sempre aos teístas provar que Deus existe -- e como eles não podem fazê-lo, Deus não existe.

Explicação: Um modo de tentar lançar o ônus da prova sobre os teístas, pois é supostamente mais fácil (em teoria) provar o teísmo do que o ateísmo.

Paródia: É mais fáil provar que existe somente uma maçã podre neste saco do que provar que há mais de uma. Então, na ausência de provas de que há mais maçãs podres, devemos concluir com certeza de que há somente uma no saco.

Refutação: A facilidade em provar uma crença não tem qualquer relação com a plausibilidade dessa mesma crença, e certamente não muda o ônus da prova. Este argumento, bem como o de "Sem evidências = Sem Deus", é apenas uma tentativa sorrateira de justificar e cometer a falácia de apelo à ignorância.

Particularmente, não gostei desta parte nem um pouco. Infelizmente há uma exagerada tentativa de se inverter o ônus da prova e a refutação não é de todo válida, ao ver deste Árabe. Vou explicar:
Cientificamente falando, assim como em outras disciplinas (a jurídica por exemplo), o ônus, a obrigação de provar é de quem alega. Sempre. Se alegarem que alguém cometeu um crime, o acusado pode até ficar calado no processo se quiser (ou se for louco o suficiente para isso). Quem o acusa é que deve provar o que alegou. E sempre, a prova para ser aceita como tal deve estar completamente vinculada à alegação e trazer por consequência a indicação daquilo que se está tentando provar. Simples assim.

Um exemplo é o artigo deste site sobre Nibiru, onde tento mostrar que Salvatore de Salvo alegou muitas coisas, mas não apresentou nenhuma evidência do que alegou. Ele até tentou, mas as alegações não trazem a consequência de que os fatos narrados são inequivocamente resultado da aproximação de um planeta desconhecido. 

O teísmo é anticientífico 

Argumento: A ciência descarta a existência de um Deus, pois Deus não pode ser observado epistemologicamente. Portanto, é anticientífico acreditar em Deus.

Trata-se de uma conclusão precipitada. Na verdade, diria que para a ciência, é irrelevante se Deus existe ou não. E na verdade somos abertos para sua existência. Precisamos apenas ancontrar as provas.

Explicação: Muito direto. A crença aqui é de que a ciência é fundamentalmente atéia, e, por conseqüência, o teísmo deve ser anticientífico. (A maioria dos proponentes deste ponto de vista seriam bem rápidos em acrescentar, "E já que o teísmo é anticientífico, não passa de lixo supersticioso").
Paródia: A ciência descarta a questão de se uma mão vence outra no pôquer. Portanto, é anticientífico vencer no pôquer, e os jogadores de pôquer são apenas idiotas supersticiosos.

Refutação: Na verdade, a ciência não nega a existência de Deus mais do que nega as regras do pôquer. Deus, como o pôquer, é simplesmente uma ideia para a qual a ciência não é importante. De fato, todas as questões metafísicas são, por sua própria natureza, inabordáveis pela ciência. Esta não descarta a existência dessas coisas; ela apenas reconhece que elas não estão sujeitas à investigação científica. Conseqüentemente, a crença em Deus não é anticientífica, no sentido de que seja contrária à ciência.

Na verdade, eu iria mais longe. Resumidamente, conforme Carl Sagan disse em sua última entrevista, a religião é boa e já nos deu  obras maravilhosas na arte, literatura e em matéria de ética, principalmente em como devemos agir uns com os outros. Mas quando ela tenta se meter no âmbito da ciência, ela falha amargamente. Novamente o segredo é cada um ficar dentro de sua área de atuação.

O que ocorre atualmente e que incomoda muitos religiosos é o fato de a ciência estar descobrindo coisas que invalidam muitas coisas que são relatadas em textos religiosos. Não foi algo intencional, apenas aprendemos um bocado desde a Era do Bronze. Mas particularmente admito que os relatos ainda têm seu valor, não como histórias que devam ser levadas em sua literalidade, mas levando em conta a mensagem, o ensinamento que há nelas.

Os teístas são maus 

Argumento: A crença em Deus tem produzido incontáveis guerras, inquisições, e outros tipos de tormento. Portanto, a crença em Deus deveria ser rejeitada.

Explicação: O exemplo mais comum de apelo emocional. O teísmo tem levado a atrocidades; logo ele deve ser considerado falso.

Paródia: A ciência levou à criação da bomba atômica, bem como a incontáveis outros implementos de destruição em massa. Estes, por sua vez, têm causado grandes dores e sofrimentos às pessoas ao longo da história. Portanto, a ciência deve ser rejeitada.

Refutação: Mesmo se fosse verdade que o teísmo sempre levasse a atrocidades (e não é) isso não afetaria em nada a questão de ele ser ou não verdadeiro.

Mais algo a ser acrescentado é que não foi a crença em Deus que produziu as guerras e as matanças. Pessoalmente, creio mais que as maiores atrocidades fooram causadas pele própria estupides humana, que deturpou o verdadeiro sentido dos textos religiosos. Claro que a Bíblia, o Alcorão e outros livros sagrados têm passagens terríveis narrando matanças em nome de um deus ou de alguns deuses. Mas se formos ver mesmo o sentido maior, o ponto central da mensagem é exatamente o contrário. O maior erro de alguns religiosos negar a exixtência deles.

Onde está Deus?

Argumento: Deus não pode ser encontrado em lugar algum do universo. Deus não tem tamanho nem massa. Logo, Deus não é uma coisa, e por isso não pode existir.

Explicação: Este argumento basicamente diz que, por Deus não ser um objeto físico, ele não pode existir.

Paródia: A lógica não pode ser encontrada em lugar algum do universo. A lógica não tem tamanho ou massa. Logo, a lógica não pode existir.

Não gostei da paródia que o autor usou. Quando falamos sobre Deus, estamos nos referindo a um ser. Já a lógica é uma ideia. Não creio certo comparar um ser, ou uma pessoa com algo abstrato. Mas enfim, pode-se perceber qual foi a lógica que ele quis usar.

Refutação: Este argumento se baseia no materialismo, que é o ponto de vista metafísico de que apenas os objetos físicos existem realmente. Até aí nada de mais - não há nenhuma razão a priori pela qual o materialismo deva ser falso. Mas é um argumento muito, muito ingênuo contra o teísmo, já que os próprios teístas obviamente não aceitam o materialismo como verdadeiro! A fim de que a proposição acima fizesse sentido, o ateísta teria de provar que é o materialismo que está com a razão; algo essencialmente impossível.

Deus não tem sentido

Argumento: A palavra "Deus" é tão vaga e ambígua, que não se refere a uma única coisa. Pergunte a um hindu o que é Deus, e ele lhe dirá algo completamente diverso do que diria um cristão, porque não há dois "Deuses" exatamente iguais. Logo, Deus deve ser descartado, simplesmente porque ele não significa nada para quem diz que ele existe.

Explicação: Isso é por vezes chamado de ateísmo lingüístico. A idéia básica é que, já que "Deus" é supostamente um termo sem sentido, não se pode acreditar validamente em Deus mais que se poderia acreditar em, digamos, "squarfs" e "turlims".

Paródia: A idéia de que "existe uma maçã vermelha" é tão vaga e ambígua que não se refere a uma única coisa. Pergunte àquele sujeito o que é uma maçã vermelha, e ele apontará para uma fruta de um formato particular e um matiz particular de vermelho; ao passo que um outro sujeito apontará para uma fruta com um matiz diferente de vermelho, já que não existem duas maçãs perfeitamente iguais. Logo, a existência de uma maçã vermelha deve ser descartada, pois não significa nada dizer que existe tal fruta.

Refutação: É claro que a palavra "Deus" é, se vista sem maiores definições, muito vaga e ambígua para significar muita coisa. Mas o argumento ateísta acima se fundamenta num equívoco sutil: ele diz que, uma vez que o termo muito genérico "Deus" não tem um significado suficientemente preciso, nada que possa ser chamado de Deus pode realmente existir. Na verdade, contudo, é inteiramente possível ter definições específicas de Deus que realmente fazem sentido. Os hindus têm uma definição específica de Deus; os cristãos têm outra; os judeus, outra; e assim por diante. Tudo o que a ambigüidade do termo genérico "Deus" significa é que um ateu, em vez de falar de "qualquer Deus", deve lidar com concepções individuais de Deus. Essas concepções particulares podem certamente ter sentido próprio, e ser, por conseqüência, imunes ao desafio do "ateísmo lingüístico".

Espero com este texto ter ajudado muitos a melhorarem seus argumentos. Recentemente, vi um colega ateu ser miseravelmente humilhado em um debate exatamente por ter cometido erros de lógica crassos. É o perigo de decorar alguns argumentos sem saber qual a lógica envolvida neles e quais são as refutações mais comuns do outro lado da discussão. Como já dizis Sun Tzu, se conhecermos a nós mesmos e ao inimigo, não precisamos temer o resultado de mil batalhas. Se conhecemos s nós e não ao inimigo, para cada vitória virá sempre uma derrota. E se não conhecermos nem a nós nem ao inimigo, perderemos todas as batalhas. Pensem nisso.

Fonte: http://www.cacp.org.br/movimentos/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=430&menu=12&submenu=2

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